“Disseram-me que Deus me ama, e ainda assim a escuridão, o frio e o vazio são tão grandes que nada toca minha alma. Terei eu errado ao me entregar cegamente ao chamado do Sagrado Coração?”


Quem ler a declaração acima jamais imaginaria que foi dita por alguém que cruzou o século XX como a representação perfeita da boa cristã. Alguém com uma dúvida tão grande ao ponto de nada tocar-lhe a alma não pode ser alguém que se diz cristão. Ser cristão não é aquele que se diz pertencer a Cristo? E como pode alguém pertencer a Cristo e viver às cegas? O mais contraditório nisso, contraditório não, paradoxal, é que as palavras em destaque foram pronunciadas por alguém que teve sessenta anos ininterruptos de sua vida dedicados aos miseráveis, doentes e abandonados, ao que lhe rendeu o título de “santa das sarjetas”, bem como um prêmio Nobel da Paz em 1979. Tanto esforço, tantas obras, tanto altruísmo, e Madre Tereza de Calcutá morreu sem ter certeza de que Deus a amava. Não só isso, mas partiu para a eternidade adentro na escuridão, no frio e no vazio. Isso é o que dá quando a fé é sinônimo de obras, religiosidade e seus desdobramentos. Neste caso, no fim das contas, descobre-se que todas as obras de justiça praticadas por alguém não passavam de trapos de imundície.

Pobre Madre Tereza de Calcutá. No íntimo, a religiosa, que dizia enxergar a iluminação divina em todos os lugares, lutava para acreditar no que pregava. Pregava que Deus amava a todos, mas duvidava do amor de Deus. Pregava a luz, mas não foi capaz de enxergar o que a esperava depois da morte. Pregava a verdade, mas sempre andou no caminho da dúvida e da incerteza. Tudo isto não teríamos conhecimento se não fosse revelado no livro Mother Teresa: Come Be My Light (Madre Teresa: Venha Ser Minha Luz), lançado nos Estados Unidos. Revelações feitas também pela Revista Veja de 5 de setembro de 2007, página 86. Quem insiste em agradar a Deus com suas obras, acabará com os burros n’água. Simples: se fosse possível a paz com Deus por intermédio de obras praticadas em nome de uma religião, ou seja lá em nome de quem for, o próprio Deus, do alto de sua sabedoria, teria poupado Seu próprio Filho da morte. Se fosse possível, mesmo de longe, a salvação pela guarda do sábado ou do domingo, pela obediência ou perseverança, pela caridade ou altruísmo, por seguir os passos de Jesus ou por andar no “caminho estreito”, tudo isto não faria sentido a morte e ressurreição do Senhor Jesus.

Quem se agarra ao sábado, pai nosso, perseverança, acabam como Madre Tereza de Calcutá: na escuridão e incerteza profundas. Mas como coisa própria de religioso é querer merecer, os tais andam sempre na contra mão e agarrados a sua teimosia. Não querem abrir mão daquilo que possuem: seus credos e suas próprias verdades. Acham que a tradição de seus pais ou até mesmo aquilo que aprenderam com seus líderes religiosos satisfazem suas vidas e dão conta da realidade. Enquanto o apóstolo Paulo afirma, inspirado pelo Santo Espírito do Eterno que: “pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” Efésios 2:8,9, muitos teimam não abrir mão do seu ego e criar lá seu jeitinho de tampar o vazio da sua alma. Se Madre Tereza de Calcutá tivesse aberto mão de sua religiosidade e se tivesse apelado para o Senhor Jesus não viveria em contradição entre o que pregava e seu mundo interior nem tão pouco teria partido com um vazio do tamanho de sua alma!

Aos remidos, graça e paz!