Os pregadores dessa ‘coisa’ costumam fugir diante de determinadas dificuldades. Eis algumas delas:
1 – Por que nenhuma vez é feita qualquer referência a qualquer tipo de
predestinação fatalista nas Escrituras de antes da cruz?
Na questão de Israel como nação, e dos israelitas como pessoas, não
existe o escopo eterno. Nenhuma vez foi dito ou está escrito ter Deus
predestinado um só judeu para a salvação eterna.
Deus preparou um povo através do ventre de uma mulher estéril. Mas
preparou um povo. E o preparou para interagir com os outros povos no
aspecto físico-material.
2 - Não existe um só caso de predestinação de pessoa alguma de nação
alguma, antes da cruz. Mas não houve ninguém salvo? Não houve
ninguém que tenha alcançado do Altíssimo, o altíssimo privilégio de ser
escolhido para a glória eterna?
E por que só no Novo Testamento apareceria a figura do predestinado?
A predestinação fatalista é uma afronta ao justo e perfeito caráter do
Eterno, sendo, portanto, inexistente.
3 – E o caso das crianças?
A Confissão de Fé Batista de 1689, em seu artigo 10º, item 3º, afirma o
seguinte: “As crianças que morrem na infância, se eleitas, são regeneradas
e salvas por Cristo, através do Espírito, que obra quando, onde e como Lhe
agrada.”
Depreende-se disso que, as crianças que morrem não tendo sido eleitas,
estariam destinadas às trevas.
Essa coisa macabra, digna do pior dos demônios, não caberia no Pai das
Luzes.
Outros que tais, mas do mesmo time, não chegam a tanto. Dizem que se
alguém morreu ainda criança, morreu por ter sido predestinado. Caso
contrário, não morreria ainda criança, pois teria que alcançar a idade da
responsabilidade, para, pecando, justificar sua própria perdição.
Nesse caso, ocorreria algo esquisito (mesmo que nada seja esquisito dentro
da esquisitice que a ‘coisa’ já encerra). É que, em países como Biafra,
Somália, Etiópia, e outros, para cada grupo de 1000 crianças que nascem,
cerca de 300 morrem antes de completar o primeiro ano de vida. Enquanto
que em países do primeiro mundo (Suíça, Suécia, Dinamarca e outros), a
taxa de mortalidade infantil fica próxima de zero.
Dar-se-ia o caso de ter predestinado Deus mais africanos que europeus,
para a salvação?
4 – Alguns defensores da doutrina predesticionista (fatalista) no afã de
respaldarem a ‘coisa’, trocaram os pés pelas mãos e usaram textos
escatológicos como se soteriológicos fossem.
Ora, é primário que não se contextualiza a doutrina da salvação eterna
(matéria soteriológica) com citações profético-escatológicas. Quem assim
o faz cria e alimenta sofismas e incoerências, incompatíveis com o uso
correto das regras hermenêuticas.
Mas foi exatamente isso o que fizeram figuras eminentes do
predesticionismo, como Charles H. Spurgeon e Samuel Falcão.
Spurgeon, no livro ELEIÇÃO, à página 10, escreveu o seguinte: “Jesus
Cristo declarou: Não tivesse o Senhor abreviado aqueles dias, e ninguém
se salvaria; mas, por causa dos eleitos que Ele escolheu, abreviou tais
dias.. Porque se levantarão falsos cristos , e falsos profetas, e farão sinais
e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos... E Ele enviará
os anjos e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, da extremidade da
terra até à extremidade do céu”, Marcos 13:20,22 e 27.
Por sua vez, o Rev. Samuel Falcão em sua obra Predestinação, pág. 108,
escreveu: “Leiamos mais para ver a proeminência desta doutrina nas
Escrituras. “Não tivessem aqueles dias sido abreviados e ninguém seria
salvo; mas por causa dos escolhidos tais dias serão abreviados”, Mateus
24:22;
“... para enganar, se possível os próprios eleitos”, Mateus 24:24.
Tanto Spurgeon quanto o Rev. Falcão, de forma absurda e incompetente,
usaram escrituras escatológicas na doutrina da salvação, comprometendo o
caráter do Altíssimo em defesa de algo insustentável e asqueroso.
Spurgeon, um dos maiores defensores e pregadores da inexistente
predestinação fatalista, demonstrando não dominar alguns enunciados
bíblicos, valeu-se de uma profecia na qual o Senhor Jesus revelou o que
haverá de acontecer com os judeus na grande tribulação, nos últimos três
anos e meio da última semana de Daniel 9:24 a 27. Sendo os judeus os
escolhidos como a nação da qual nasceria o Messias, atribuiu Spurgeon tal
escolha a uma predestinação com conotação eterna. Um absurdo digno dos
piores exegetas, faltos de iluminação e do temor a Deus.
Pessoas sérias e comprometidas com a vontade do Senhor não agem dessa
forma.
Já o Rev. Samuel Falcão, além de usar do mesmo expediente de Spurgeon,
admitiu a tradução do termo ‘sarx’, carne, como ‘ninguém’ (“ninguém
seria salvo”). Isso transformou o texto em um sofisma, porquanto não foi
isso que o Senhor afirmou. Jesus não afirmou que “ninguém seria salvo”,
mas que “nenhuma carne se salvaria”. Isto é, que nenhum dos judeus
permaneceria vivo para entrar no reino milenar. Daí precisarem eles fugir
da Judéia (não do Brasil nem do Japão) para os montes.
Isso acontecerá quando a abominação da desolação for colocada no lugar
santo do templo, em Jerusalém. Templo que será construído dentro de
pouco tempo.
O texto é todo de conotação escatológica, e não trata, em momento algum,
repetimos, da salvação eterna.
Outrossim, para significar “ninguém”, na expressão “ninguém seria
salvo”, teria sido usado o termo “oudeis”, com as variações “oudenia” e
“oudén”, como pronomes. Jamais “sarx”.
5 – O Rev. Samuel Falcão, ninguém sabe porque, talvez no desespero de
concluir sua tese, usou, a mais não poder, textos do Velho Testamento
como uma criança que tentasse esvaziar o oceano com um balde.
Escreveu ele, no livro Predestinação, pág. 107: “Há muitas passagens em
que Israel é chamado povo escolhido. Basta citar algumas. “O Senhor teu
Deus te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os
povos que há sobre a terra (Deut. 7:6 e 14:2). “Feliz é a nação cujo Deus é
o Senhor, e o povo que Ele escolheu para sua herança.” (Sal. 33:12). “Mas
tu, ó Israel, servo meu, tu Jacó, a quem elegi, descendente de Abraão, meu
amigo, tu a quem tomei das extremidades da terra... e a quem disse: Tu és
meu servo, Eu te escolhi e não te rejeitei.” (Isaías 41:8 e 9).
E depois de fazer desfilar muitos outros textos do Velho Testamento, onde
só cuidou Deus de Israel, escreveu o Rev. Falcão: “Estas passagens
mostram a proeminência da doutrina da eleição na Bíblia”.
Em nenhum dos textos citados pelo rev. Falcão pode ser encontrada a idéia
abjeta e asquerosa de uma predestinação fatalista com conotação eterna.
Quando afirma o Senhor Deus ter escolhido e elegido Israel como seu
povo, não afirma ter escolhido Israel em meio a outras nações, porquanto
Israel nem sequer existia como povo ou como nação.
Israel é resultado da promessa feita a Abrão de que seria ele pai de
numerosa nação, sendo entretanto estéril Sarai, sua mulher.
Deus, pois, levantou um povo a partir do ventre estéril de Sara, estando já
ela além dos noventa anos, e tendo-lhe cessado a ovulação, conforme
Gênesis 15:1-6; 16:1; 17:17; 18:11; 21:1-3.
Israel, como nação, veio à existência a partir de uma promessa do Senhor
Deus a Abrão, depois Abraão, pai da raça.
Israel foi eleito povo de Deus, para fazer mediação entre o Senhor e as
outras nações, para interagir em questões físico-materiais. Jamais houve
eleição, em termos eternos, para a nação israelita.
Ninguém (particularmente) de Israel recebeu do Senhor nenhuma palavra
sobre uma bem-aventurança eterna, como sugerem os predesticionistas, a
exemplo do ‘infeliz’ Rev. Samuel Falcão.
6 – Abraão, até a morte do Senhor Jesus, foi retido no hades com todos os seus
descendentes, aqueles que morreram debaixo da promessa.
O Senhor contou, em Lucas 16:19 a 31, o que acontecia com Abraão.
Religiosos existem que, contrariando os fatos, afirmam ter estado Abraão
no Paraíso, ficando este entre as duas partes do hades, ou ao lado dele. O
seio de Abraão significava a comunhão com ele que todos quantos haviam
morrido debaixo da promessa, desfrutavam.
Mas Abraão estava no hades. Em uma parte superior dele, mas no hades.
foi possível o diálogo entre ele, Abraão, e o rico, sendo o rico um de seus
descendentes. Isso anula a idéia de ter sido Israel escolhido ou
predestinado em relação à eternidade. O rico era judeu.